Diário de Pernambuco distorce fala de Marina Silva

Nesta manhã, o Diário de Pernambuco publicou uma notícia mentirosa, distorcendo uma fala de Marina Silva em uma palestra ontem a noite, cuja manchete é “Em agenda no Recife, Marina Silva sai em defesa do pastor Marco Feliciano“. Esta notícia acabou se difundindo para outros jornais e entrou no trend topics do twitter.

Na verdade, Marina se posicionou de forma crítica a sua indicação à Comissão de Direitos Humanos, argumentando que este tema deve ser tratado no plano político e não religioso.

 “Não gosto como este debate vem sendo conduzido (legalização do aborto e casamento gay). Hoje, se tenta eliminar o preconceito contra gays substituindo por um preconceito contra religiosos”, disse Marina. Pelo menos nessa parte da matéria, ao nosso ver, o discurso de Marina faz todo o sentido do mundo (se é que ela disse isso, porque não dá pra confiar na publicação do Diário de Pernambuco). Acompanhamos muita coisa sobre o caso Feliciano na rede e percebemos que em nome da tolerância, muita gente foi intolerante ao extremo.

Veja algumas matérias sobre o que Marina Silva pensa sobre o assunto:

Vídeo

Matéria no G1
http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2013/04/o-feliciano-e-despreparado-para-presidir-comissao-diz-marina-silva.html

Nota de Marina sobre a indicação de Feliciano
http://www.brasilemrede.com.br/index.php/noticias/853-marina-critica-uso-de-comiss%C3%A3o-de-direitos-humanos-como-palco-de-negocia%C3%A7%C3%A3o.html

Nota da Rede Sustentabilidade sobre a indicação de Feliciano
http://www.brasilemrede.com.br/index.php/noticias/867-sobre-o-leil%C3%A3o-de-cargos-no-congresso.html

O dito e não feito

Por MARINA SILVA -ex- ministra do Meio Ambiente – para o Correio Braziliense

Temos uma escolha a fazer, uma escolha realmente simples, entre ver e perceber. Podemos fingir que não percebemos a degradação das condições de vida que estamos deixando para nossos descendentes, podemos nos iludir com a possibilidade da tecnologia “dar um jeitinho” nos desastres ambientais cada vez maiores e mais frequentes, podemos permitir que a ganância por dinheiro e poder seja o valor e a medida dominante em nossa vida. Ou podemos encarar a realidade, assumir as nossas responsabilidades com as futuras gerações, escolher o equilíbrio e a sobriedade.

Essa escolha é de cada um. Obviamente, não se pode cobrar dos bilhões de seres humanos que vivem na miséria, sofrendo com a falta de comida e abrigo, a mesma responsabilidade que têm, ou pelo menos deveriam ter, os que fizeram do excesso a medida da própria felicidade. No mês em que se realiza a Rio+20, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, divulga seu relatório GEO 5 e deixa preocupados todos os que o leem.

Em primeiro lugar, com o estado do planeta Terra, sem melhora significativa em quase todos os problemas que foram debatidos na Conferência de 1992 e sobre os quais se fizeram vários acordos internacionais. Mas o que entristece é a causa da permanência e agravamento dos problemas: a inércia (para usar uma expressão conhecida, no limite da irresponsabilidade) dos governantes que comparecerão ou faltarão ao encontro no Rio. Se a coisa não andou, é porque os governos não fizeram o que deviam e não cumpriram o que acertaram, mesmo sabendo o que dá resultado.

Impressiona a força do problema: as mudanças no “sistema Terra” e suas graves consequências para a saúde e a segurança de todas as comunidades humanas. Impressiona mais ainda a fraqueza da resposta: o Zero Draft, rascunho do documento que os líderes internacionais assinarão no Rio, parece ser uma fuga à realidade descrita no relatório do Pnuma. O mundo grita, os governantes fingem não escutar.

Justiça seja feita, entretanto: a maioria deles está sob a intensa pressão da crise financeira, da campanha eleitoral, dos radicais antiambientalistas, do modelo econômico insustentável de seus países, da histeria consumista que disfarça o mal-estar, do crescimento que dá a ilusão de desenvolvimento. Não conseguem sair da teia de interesses, nem sempre legítimos, em que se transformou a política. Aceitam o empobrecimento da democracia. Seus programas resumem-se em administrar as circunstâncias, jamais em antecipar-se a elas.

Gorbachev, que participou da Eco 92, resumiu em artigo recente a situação política: falta liderança e visão. Todos afirmam que não teremos tempo para uma Rio+40. Mais uma vez o relatório do Pnuma alerta para os limites críticos que estão sendo ultrapassados, às vezes de forma irreversível. Em algumas regiões, a oscilação rápida de temperatura, a perda acelerada de biodiversidade, a ocorrência de catástrofes e eventos extremos podem condenar grandes parcelas da humanidade ao sofrimento e provocar danos que a natureza levaria muito tempo para recuperar.

O relatório acrescenta, além de crítica realista ao pouco que se fez, uma evidência sobre a falta de um organismo internacional capaz de monitorar os acordos e com poder para exigir seu cumprimento. Os países dão tanta importância ao comércio a ponto de ter uma organização mundial que o disciplina. Agora terão que dar a mesma importância ao meio ambiente, ao clima, à biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável, que possa promover o bem-estar da atual e das futuras gerações.

Haverá avanços na Rio+20? Penso que a resposta está com a sociedade civil, os povos, as comunidades, as empresas, as organizações sociais, todos os que se dispõem a transformar sua consciência em ação, assumindo responsabilidades locais e aumentando a capacidade de influenciar na governança global. Será ocasião de reunir-se, conversar, formalizar acordos e parcerias, fortalecer-se.

Para os governantes do mundo aqui reunidos, será uma grande oportunidade – talvez uma das últimas – de atender às exigências de seus povos, para que definam metas e as cumpram, colocando-se diante da escolha ética que têm negligenciado. O relatório do Pnuma é, antes de tudo, uma contundente denúncia. Ao mesmo tempo em que atesta mais uma vez a degradação das condições do planeta, revela a incoerência dos representantes dos governos. A portas fechadas, ignorando solenemente a realidade dramática que o próprio relatório revela, costuram um acordo baseados nas conveniências políticas dos seus mandatários.

#CodigoFlorestal: as mentiras e a ditadura do agronegócio

Veja acima prints (tirados às 14 horas de hoje 02 de maio de 2012) e tirem suas próprias conclusões sobre a vontade soberana do povo, que deveria ter resguardo no congresso nacional, e reflita quem é antidemocrático – nós, milhares de brasileiros que são contra o novo código florestal, ou os que têm exercido o poder de compra das decisões da institucionalidade. Utilizamos o serviço do site Hashtag Battle, que compara o número de aparições de hashtags no Twitter.

As mentiras que os recrutas do #agroterrorismo plantam são de dar inveja ao personagem de Jim Carrey em “O mentiroso” – já pensou se como no filme eles começam a falar a verdade? – A primeira delas que já virou chacota é a de que se o código florestal não for aprovado o brasileiro não terá comida – como se essa questão não tivesse relação com distribuição de renda e outras questões sociais.

A segunda caricaturauma balela deslavada – é a de que ambientalistas e ecologistas são contra a agricultura e são contra o desenvolvimento por não quererem que esse péssimo código florestal (o aprovado pelos deputados ou mesmo os do senado) pelo senado) seja aprovado. Claro que ambos são favoráveis á agricultura e reconhecem o valor que o agronegócio e, principalmente, a agricultura familiar dá ao PIB. Ambientalistas e ecologistas pensam no futuro e valorizam o desenvolvimento sustentável, diferente dos agroterroristas que pensam no lucro a qualquer preço. Lucro a qualquer preço é do tempo que Brasil era colônia de Portugal. Isso sim é ser retrogrado e inadmissível para o século XXI.

Outra mentira de meia dúzia de militantes do #agroterrorismo é de que ONGs estrangeiras querem tomar conta do que é do Brasil. Essa falácia cria dificuldades para os produtos nacionais empobrece o debate sobre o Código Florestal e serve apenas para contaminar a relação entre ambientalistas e agricultores. O Código Florestal atual foi revisto em 1965 por cientistas, agrônomos, economistas e juristas brasileiros exatamente para promover o desenvolvimento do país sem comprometer nossas riquezas naturais.

As mais de 150 organizações que coordenam o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável contra o Projeto de Lei são todas da sociedade civil brasileira: CNBB, OAB, CUT, Via Campesina e as várias entidades ambientalistas nacionais. Há, sim, a adesão de ONGs internacionais, afinal o mundo todo está preocupado que esse Projeto de Lei destruirá nossas florestas, afetando o Brasil e o planeta.

Andam propagando também que somos (os brasileiros) antidemocráticos por não aceitarmos a votação do congresso. O movimento socioambiental, a ciência e especialistas estiveram presentes em todas as 70 audiências públicas promovidas pela Câmara dos Deputados e expuseram seus posicionamentos a respeito das alterações que deveriam ser promovidas no Código Florestal, como o fez em vários documentos entregues aos parlamentares apontando pontos falhos seja na versão do senado ou na mais recente e desastroso parecer do Paulo Piau. O que prevaleceu, em ambos os casos, foi a vitória da #velhapolítica do jogo de poder, que a todos os brasileiros dá nojo. Enfim, os relatórios apresentados deixaram de fora as principais opiniões de pesquisadores, cientistas, juristas, autoridades e especialistas sobre o assunto. Isso não é diálogo, não é democracia.

E, por fim, ainda dizem que somos antimeocráticos mesmo diante de mais de 1 milhão de assinaturas de brasileiros entregues aos parlamentares que são contra o novo código florestal. Atualmente, outra petição está sendo assinada, esta a favor do #desmatamentozero e já conta com mais de 180 mil assinaturas. Recentemente uma enquete pública (ruralistas podiam e votaram muito) da Revista Globo Rural também aponta que 59% desejam que a presidente Dilma vete todo o projeto de lei. Mas a tudo isso os recrutas dizem haver manipulação e que somos antidemocráticos. Já que tudo isso é antidemocrático, por que esses recrutas que sujam o nome do agronegócio não criam uma enquete ou uma petição a favor do código? Daí, veremos então, qual a vontade do povo.

#VetaTudoDilma – artigo da Marina Silva

*Artigo da ex- ministra do meio Ambiente, Marina Silva, para a F. de São Paulo.

Veta tudo, Dilma

Algo está muito errado quando a maioria dos parlamentares, na contramão da vontade da maioria da sociedade, prefere um modelo de desenvolvimento que, em razão do lucro rápido, compromete o futuro do próprio país.

O novo Código Florestal aprovado pela Câmara é tudo, menos “florestal”. Virou uma regulamentação de atividades econômicas no campo, nas cidades e nos litorais, de forma a dourar a pílula e apaziguar consciências. Está longe de representar equilíbrio, sustentabilidade, respeito às pessoas e aos bens do país.

O que saiu do Senado, tido como de “consenso”, já ignorava o parecer das autoridades científicas e de especialistas de diversas áreas. Em nome dele, lideranças de quase todos os partidos classificaram como “radicais” as vozes críticas que defendiam as salvaguardas da legislação ambiental, capazes de garantir a qualidade de vida das gerações presentes e futuras.

As mesmas lideranças, porém, contemplaram os interesses verbalizados pelas outras vozes mais radicais de um Brasil atrasado, que se recusam a entender que desenvolvimento econômico e preservação ambiental são indissociáveis.

Tais escolhas colocam a presidente Dilma diante da tarefa de fazer o que sua base de apoio não fez. Veremos debates nos próximos dias, principalmente sobre o que deve ser vetado. A discussão será algo do tipo: o quão menos ruim o projeto pode ser para não ter um caráter imediatamente fatal.

Como foi aprovado no Congresso, já é praticamente unânime que ele trará implicações nas taxas de desmatamento. Discutir o veto parcial é como avaliar se desejamos colapsar os nossos ecossistemas (e, com isso, inviabilizar nossa agricultura) em 10 ou 20 anos.

O veto deve anistiar os desmatadores ou desobrigar a recomposição de matas ciliares? Deve ser pelo fim dos mangues ou pela redução de reserva legal? Fragilizar as veredas ou as nascentes e mananciais?

Não é isso que deveríamos discutir. Temos todas as condições de liderar o processo de transição para o desenvolvimento sustentável. O Brasil pode ser para o século 21 o que os Estados Unidos foram para o mundo no século 20. Mas são necessárias visão antecipatória e determinação de perseguir nosso destino de grande potência socioambiental. Não é fácil fazer a melhor escolha, porém é na pressão dos grandes dilemas que se forja a têmpera dos que estão afiados a talhar os avanços da história.

A presidente Dilma terá que decidir qual modelo de desenvolvimento quer para o país. Não dá para ter na mesma base de apoio o sonido da motosserra e o canto do uirapuru. Agora, resta a ela usar seu poder de veto ou compactuar com o que está posto. Chegou a hora da verdade. Veta, Dilma. Veta tudo, não pela metade.

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PS. Hoje, às 14 horas, a sociedade brasileira vai mostrar, mais uma vez, que não comunga com as decisões da câmara dos deputados e mesmo com o relatório do Senado chamado de consenso. Por isso, brasileiros vão usar as tags #VetaTudoDilma e #CodigoDoDesmatamento para demostrarem a indignação do povo com a arbitrariedade que representa a aprovação desse péssimo código florestal, uma afronta ao desenvolvimento sustentável, ao país, a agricultura familiar.

Aprovação do projeto de Código Florestal causa indignação aos brasileiros

O Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável manifesta sua profunda indignação com a aprovação do projeto de Código Florestal pela Câmara dos Deputados em 25 de abril. A aprovação do relatório do deputado Paulo Piau representa o maior retrocesso na legislação ambiental na história do País.

Se o texto aprovado pelo Senado já significava anistia aos desmatamentos ilegais e incentivos a novos desmatamentos, os deputados conseguiram o que parecia impossível: torná-lo ainda pior. O texto revisado pela Câmara dos Deputados, além de ferir os princípios constitucionais da isonomia, da função social da propriedade e da proibição de retrocessos em matéria de direitos fundamentais, fere frontalmente o interesse nacional.

Usando hipocritamente o discurso de defesa dos pequenos proprietários, os deputados derrubaram as poucas melhorias que o Senado efetuou e aprovaram um texto que apresenta incentivos reais a novos desmatamentos, inclusive em nascentes e outras áreas de produção de água, ocupações em manguezais (apicuns), e permite benefícios econômicos mesmo para quem continuar a desmatar ilegalmente.

Considerando a inconstitucionalidade do projeto e a contrariedade ao interesse nacional, que trazem perversos impactos na vida de todos brasileiros, confiamos e apoiamos o compromisso da presidenta Dilma de não aceitar anistia a crimes ambientais, redução de área de preservação permanente e incentivos aos desmatamentos, o que só ocorrerá com o Veto Total ao projeto aprovado na Câmara.

Brasília, 26 de abril de 2012

Essa nota do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável representa milhares de brasileiros que desaprovam os relatórios apresentados (e aprovados) da câmara de deputados e, inclusive, o que fora aprovado anteriormente no Senado (nota dos editores do blog)